domingo, 29 de maio de 2011

Pescador

As primeiras vezes que disseram ninguém acreditou, até que eu mesmo vi com os meus olhos. A lua estava linda, eu olhava para ela. Senti um puxão na canoa, um tranco louco, quase me lançou na água. Vi a mão branca sob o foco da lanterna e quase lhe estendi as minhas. Logo ela desapareceu, porém. Como se desistisse. Gritei "Afogado, afogado!!!" mas eu estava sozinho na imensa noite azul.
Eu cheguei em casa e contei; e os mais velhos ruminaram antes de falar "Nego dágua" disseram."Mas pai Nego dágua branco?" Eu vi mãos brancas, pareciam macias. Era um afogado, alguém que não morreu ainda, que continua lá. "Um encantado?" "Encantaria aqui num tem. Guarda isso e encontre outro ponto de pesca" foi tudo que meu pai disse.

Mas eu me indispus, pensei pensei pensei e comprei uma boa rede de pesca, de arrastão. Bem forte, dessas de colher peixe grande. Chamei meus cunhados, perguntei se eles eram machos, disseram que sim, que eram, mas João falou "Senhor, tudo depende, não?" Disse do maior peixe do mundo, falei que a canoa quase virou e movi seus orgulhos, sua propensão para a aventura. Vamos pescar.

Quando a Lua voltou, subimos o rio em duas canoas. Fomos até o sétima curva e deitamos a rede antes do vôo, do canto dos macacos. Ficamos fazendo arrastão até onze e quarenta, mais ou menos, Pedro disse atirem a rede desse lado que ouvi como se fosse um gemido e nos atiramos fizemos todo o movimento de atirar a rede do lado esquerdo, à direita do margem, e começamos a levar a rede, tudo ia bem, muito peixes, um grande cardume, tudo pesou, recolhemos a rede, recolhemos a rede, estava pesada, estava pesada, eu sabia o que era, meus cunhados pensaram no peixe grande, o maior do rio, mas não se assustaram quando eu dei a mão e trouxe ao barco, um homem de óculos, muito direito, vestido de verde e com o olhar vidrado de quem foi jogado de um helicóptero.