quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Desejo selvagem



Tarzán num momento complicado
Um dos meus textos preferidos

 não levou à discussão que eu imaginava. Só um comentário. Nele eu havia descrito as ínfulas de superioridade dos brancos sobre os seres da fronteira, negros, indígenas e mestiços de toda ordem.
Porém, surgiram algumas discussões via msn. Uma dela acabou levando à questão da sexualidade, do desejo. Fico impressionado, dizia a meu interlocutor, com o fato de que alguns que aqui chegam logo logo assumem publicamente o projeto de comer todas as mulheres da cidade, num período recorde de um ano. Mas, entenda-se, "comer". "Pra casar busco uma no sul", me dizia um amigo um dia desses. Outro desses recém-chegados, que está trepando em média com quatro mulheres diferentes por semana, tem a mania de, no dia seguinte dizer, "Aqui só tem puta mesmo. Mulher aqui não vale nada! A partir de hoje vou ficar quieto." Não resiste, contudo, e na noite seguinte lá está ele jogando a sua macheza nas ruas da cidade. No dia seguinte, de novo, a mesma ladainha. De dia, culpa; de noite, desejo.
Esses exemplos mostram mais que a formação do ego masculino na fronteira. Mostra a ambivalência de certas relações que foi resolvida, em partes, na minha cabeça, com a leitura do livro de Robert Young, "O desejo colonial: hibridismo em teoria, cultura e raça." Quer dizer: Young afirma que no centro da expansão da discussão racista durante o imperialismo está a culpa inculcada nos europeus -e nos ingleses, sobretudo - pelo desejo ardente de possessão sexual do outro, do negro, do indígena, do indiano. Isso foi um dos motivos que levou, segund ele, a se gastar tanta tinta na tentativa de bloquear o contato sexual interracional. Como a civilização e seu representantes se deixariam levar pelos seus sentimentos mais "impuros", como?
Quanto aos meus amigos aí, do mesmo modos que nos machões ingleses do século XIX, fica a ambivalência e a hipocrisia. Eles tem que civilizar - já que são representantes da expansão do Estado por esses terras -, portanto, o moralismo é um de seus instrumentos. Isso até as dez. Depois  ninguém é de ninguém. A sociedade de fronteira, que criticam tão durante durante o dia, se torna o lugar de formação de suas identidades e experimentos caligulescos. Aqui, acreditam, vão realizar todos os seus desejos. Depois se casarão com uma comportada esposa, e a condenarão a uma vida sem prazer. A matarão aos poucos, a isolarão do mundo; não permitirão que ela saia, temem desde já que ela se infecte (sim esses são os termos que usam) com o vírus do amor louco e da moralidade estapafúrdia.
Mas na fronteira, as coisas sempre são definidas em termos locais, como diria Sahlins. Um terceiro, descobriu, e está perplexo, que havia virado mercadoria barata nas mãos de algumas senhoritas, que elas estavam combinando, quem ia "pegá-lo" durante a semana e quem iria fazê-lo na semana seguinte. Que as suas conquistas eram planejadas e manipuladas, via orkut, msn, celular, twitter, pelas conquistadas. De caçador à caça. Que elas estavam testando o seu sexo; queriam saber se ele é o que diz; e pior: Que algumas não gostaram do resultado. "É bobo" escreveu uma. Outra porém foi mais impiedosa: "Tem o pinto pequeno", postou no twitter.

3 comentários:

  1. Interessante são os muitos que vão "trabalhar" e com o "espírito" de "colonizar" a fronteira possui as representações do WASP: branco, quer imitar nossos irmãos do norte e de classe média. E o resto é resto.....

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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