terça-feira, 23 de abril de 2013

Apache

Foi a Lua daquele maio que chamou Joaquim para a mata, "Está boa!," ele disse a Maria. "Boa, vai sair umas nove da noite!"
Nove horas seria o encontro. Dele e do animal que lhe era destinado, uma caça gorda para a festa do padroeiro.
Preparou os cartuchos, cerrou o cabo de uma panela velha, socou a pólvora. Preparou dois cartuchos. Passou óleo singer pela cano da calibre 20, preparou uma farinha com carne seca. E foi.
Foi para a entrada da serra, longe do Rio; perto de uma aguada. Subiu na árvore, "Como um gato". Ele gosta de pensar em si mesmo como um animal, uma onça talvez. Só que humana. Um caçador.
E o tempo morto do início da noite correu lento. O sol foi sumindo... o ar esfriou aos poucos e a noite estava na mais profunda escuridão.
Joaquim não ouviu nada; só percebeu o facho de luz, pequeno, mínimo mesmo; mas que foi crescendo, ganhando proporções estranhas. Até ficar enorme quando se deteve sobre a árvore onde ele estava. Mas Joaquim era homem e estava armado. De modo que apontou um pouco acima do centro da luminosidade e disparou um de seus melhores cartuchos. O barulho do disparo rasgou o mundo e acordou Maria, que sorriu.
A luz, que parecia uma lua só que mais forte, declinou no angulo esquerdo de seu centro e começou a cair estilhaçando as árvores e fazendo um som de desastre que se expandia muito rápido na direção errada, segundo Joaquim contou no outro dia. Ele saltou, "Como um gato," e saiu em disparada ainda perseguido pelos estilhaços de madeira, terra e outros materiais - esses incandescentes que  - que o deixaram em paz depois de alguns minutos.

II
"Maria, acorda. Você ouviu o barulho?"
"Do tiro eu ouvi. Qual foi o bicho?
Joaquim balançou a cabeça e disse "Não foi bicho... quer dizer, não um animal desse mundo." Saiu na rua do povoado e viu que a lua subia, agora, atravessando o rio. Ficou esperando Maria, que veio e perguntou "Você errou o tiro?"
Ele respondeu que não, mas que não sabia dizer em que havia atirado. Havia uma luz e ela derrubou-a, foi o que disse.

III
No dia seguinte antes do sol nascer, ele reuniu os homens do povoado e disse o que havia: do tiro, da luz, da queda. "Precisamos ir lá ver o que era aquilo"
Foram, cada um armado e provido de cinco cartuchos. Foram se aproximando e João deu a ideia de se separarem, tocaiando a Luz de todos os lados.
Foram se aproximando e vendo o estrago na árvores, ouvindo a densidade da mata sem pássaros que restava da catástrofe, a qualidade alterada do ar não foi natada por ele. Mas se aproximavam com cuidado, escondidos.

IV
Pareceu muito o tempo que gastaram entre se separarem e chegarem no centro do desastre. Chegaram e se olharam de longe como se não acreditassem no que viam e no que não viam. Havia no centro da clareira um buraco de destruição provocada por impacto sinistro, mas não havia nada além disso. Nada. Nem luz, nem uma explicação.
Joaquim olhou tudo com amargura. Andando de um lado para o outro, não encontraram nada. Gritaram "Quem está aí? Viemos em paz!" João olhou o chão e viu um pequeno pedaço de metal, de cor indefinida entre o verde e o preto. Estava escrito Apache.



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