domingo, 29 de novembro de 2009

A chave ligamundos


é claro que você está certo ao dizer que existe uma geografia econômica da cidade; do mesmo do modo existe uma geografia racial. Um territorialização forçada pelos cores e contas bancárias. Nem todos podem ir a todos os lugares. Mas como na fronteira ninguém é de ninguém, as coisas se complicam muito.
Todos vocês conhecem a bicicleta Monark aro/barra circular? Não conhecem? É essa monark que todos conhecemos. O que não sabemos é a verdadeira paixão que muitos a devotam. Pois, antes que qualquer outro, ela foi o veiculo da fronteira; existia inclusive algumas que vinham com um farol acionado pela energia captada no pneu dianteiro por um aparato, na época, de última geração. É muito provável que muitos hilluxianos de hoje, foram, algum dia, bons bicleteiros.
Contudo, o tempo passada e as coisas mudam; as pessoas mudam, os veículos agora são outros, uma S 10, uma Triton. O problema é que a saudade; essa  fica, e finca profundo.
Ontem, à tarde, atrevidamente, andava eu por uma rua por onde não é lícito andar aquele que ganhar menos de um milhão por ano; havia outro atrevido, de bicleta, uma monark, preta, velha; mas que mantinha o glamour de seus para-lamas cromados. Do lado da rua, estava sendo estacionada uma caminhonete branca, que nada nada vale 1000 vezes mais que a calanga véia; o bicicleteiro se assustou com um carro que passou veloz, se desequilibrou. A corrente caiu. O constrangimento era visível, até eu fiquei. O moço sem jeito de recolocar a corrente no lugar, meio bloqueado, eu ai pegar um graveto, quando o dono da Trinton branca desceu, olhou a monark com a profundidade de conhecedor e eu vi toda a sua nostalgia. Ele pegou, com a chave da Trinton, a corrente, recolocou-a sobre a catraca, bateu nas costas do outro e disse "vai lá". Limpou a graxa na calça Zomp e entrou no Praia Doce.

4 comentários:

  1. Super fotos, e textos excelentes, satisfação garantida.

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  2. Falando de saudosismo será que circulava as monaretas (?!?) O imaginário também delimita como suas representações...Circula também os carroceiros...Isso que seria circular em todos os lugares e a representação da fronteira, aqui ainda embaixo a carroça ainda serve pra tudo...

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  3. Bem, vi algumas carroças por aqui sim; mas elas são tímidas. Elas também eram sólidos símbolos de status: me lembro quando meu pai comprou sua primeira carroça nova, zerinha; os vizinhos com inveja, ele orgulhoso. Um dia ela tombou, quebrou toda. Ele comprou uma monark.

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  4. eeeeeeeee monakinha velha de guerra,meu tio,chico,isso mesmo tio chico! teve adquirindo umas dessas,há uns 20 anos atráz,nem parece,tá zero bala,o gansão há muito transcendeu seu simplorio status de objeto de locomoção monomotor de 1 cavalo de potência,agora figura-se num horizontes de sentidos inimaginaveis,amiga,confidente,confidenciadora,meio de transporte,enfim, para ele,meu tio,o chico ela é um ente querido, não uma simples monarkinha.

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