sábado, 19 de setembro de 2009

(In)cômoda II


Acreditem ou não,

o senhor Professor Rafael ficará sabendo em primeira mão o que havia acontecido com a minha cômoda. Espero que o senhor e demais professores acreditem, pois eu estou até agora dizendo "Nó!!!!!!!!!!"
A cidade de Wanderlância fica a 54 quilômentros e 100 metros de Araguaína, de trevo a trevo. No rumo norte. De acordo com o IBGE,  a cidade possui 9500 e poucos habitantes e se destaca pelo ecoturismo; nos seus arredores existem pelo menos cinquenta cachoeirras, lindas. A cidade é antiga e recebeu esse nome por causa dos Wanderley, família lendária que tinha a não menos importante função histórica de mandar em tudo por aqui. Parece que aqueles românticos coróneis arrogavam primazia em tudo, na virgindade das moças, nas comidas coletivas, nos favores públicos, na memória do povo, no oficios religiosos. Por exemplo, nos dias de procissão o santo primeiro abençoava as suas casas, depois do resto dos mortais.  Eu não conheço a cidade. Mas a minha cômoda sim; ela tinha ido parar lá.
Ninguém sabe porque, nem como, nem com quem. Mas desconfio que a tradição histórica da primazia fez os entregadores do Armazém Paraíba levarem meu bem à cidade para a benção dos coróneis; quando chegaram aqui na última sexta fiz eles saberem de minha gratidão por isso. Ela ficou largada num canto da loja da rede Paraíba de lá, sozinha. A coitada! O pior é que ela quase foi (re)vendida e entregue para o Dr. Filipe Wanderley, médico e descendente de coróneis. Depois de olhar a peça, quem sabe conferindo direito à sua existência nesse mundo que não é nada sem o seu nome, ele desistiu. Dizem que disse "isso é coisa de pobre" e saiu da loja. Foi assim que a encontraram, empobrecida, rejeitada. E só o fizerem porque o gerente da loja ligou em Araguaína devolvendo a peça porque ninguém queria "aquela bosta".

Att


Professor Dernival

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