sábado, 12 de setembro de 2009

Tiros na pecuária




Professor Rafael,



aqui a vida vai animada. No último final de semana, professor Rafael, eu e a Sariza resolvemos fazer uma viagem ao Maranhão do Sul, precisamente à cidade de Imperatriz, como dizem lá, Portal da Amazônia. Mas que faz parte da zona geográfica de transição entre Cerrado e Floresta Chuvosa; do ponto de vista sociocultural é uma sociedade de fronteira, criolla. O motivo da viagem foi que o Prof. Degson foi rever a namorada; havia também um evento cultural de suma importância na região: um show de Bruno e Marrone.

Seria bom que o senhor soubesse que o rio Tocantins margeia a cidade e que ao chegar, no sábado, fomos levados à praia - na verdade um barranco, íngreme, que os “nativos”, na falta de algo melhor dizem ser a melhor praia da Amazônia Legal. Um mentira, obviamente. Ali ficamos nos banhando e comendo um peixe frito; havia skol de ótima qualidade. Á noite fomos comer uma carne seca, um camarão. Dormimos tarde, ansiosos pelo dia seguinte e por tudo que aconteceria.

O problema realmente foi que esse “tudo”, que agora sabemos "trevas", então parecia promissor. O senhor tem que concordar que um show do Bruno e Marrone é zuação de primeira. Isso de dormir na praça pensando nela, profundo isso. O almoço foi na casa da namorada do Prof. Degson. À tarde ficamos no hotel, tomamos açaí na tigela e comemos outras iguarias nativas. Às 21h tudo começou.

Demoramos três horas para chegar do centro de Imperatriz ao parque de exposição agropecuário. Um engarrafamento digno do noticiário paulista. Chegamos e fomos logos conduzidos, como gado (as elites daqui têm uma mania de tratar os pobres como gado; fiquei cantando Admirável Gado Novo o tempo todo). Empurrados, amassados, manuseados, enfim, entramos na GRANDE ARENA DE SHOWS DA EXPOIMP. Ali o monopólio era da Schin e essa cerveja custava três reais cada latinha. Mas a felicidade de ver e participar de tão grandioso evento de cultura me animou e eu bebi duas latinhas, depois fui de pinga mesmo... O Show foi cansativo e depois fomos procurar um lugar para comer algo, uma picanha. uma buchada, um chambari com puba. O bar escolhido chamava-se Texana, o “point” da EXPOIMP: ali tinha música ao vivo e os brancos ricos estavam comendo gulosamente suculosos pedaços de carne seca, de picanha, camarão, a delícia de um buchada e o explendor de um chambari, enfim.... Estavamos na ruazinha enfrente ao bar, no meio da multidão.

O tumulto era tamanho que estávamos desistindo, não havia lugar e como o bar oferecia música ao vivo havia uma pequena multidão aproveitando a música grátis. Ouvimos que o dono do bar tinha que fechar o estabelecimento ou parar a música; afinal muito macho junto acaba em confusão. Ele ficou indignado e começou a xingar com o microfone em mãos os policiais que estavam ali dispostos a fazê-lo a fechar ou parar a música. Íamos saindo quando o tenente que dera a ordem puxou o referido comerciante de bebidas, picanha e buchada pela camisa e o derrubou do pequeno palco. Tudo que se viu foi um monte de policiais sobre o homem, como se fossem adolescentes brincando de "montinho"; a cavalaria invadiu o bar e um rapaz deu um grito! Um cavalo pisou no pé dele. Ninguém sabe quem começou, mas como aqui só tem macho, um deles, arremessou um copo de uísque num dos homens da cavalaria. Foi uma chuva de copos. O cavalo levantou as patas da frente, e o policial ficou, um segundo, como um monumento de um antigo regime derrubado pela revolução, vítima de copos e escárnio. O cavalo era branco e eu vi que era mangalarga, machador, o que poderia ter me lembrado o cavalo de Napoleão. Mas começou o tiroteio e tive que sair "vuado"....
Eu e a Sariza voltamos para o hotel, trepamos entusiasticamente e dormimos. O sono foi tranqüilo, dormi como uma criança. Nada como um tiroteio para fazer um macho dormir bem. Ontem voltamos para Araguaína. O professor Degson contínua lá, em algum lugar....



Att.



Professor Dernival

Um comentário:

  1. Professor Dernival,

    Parafraseando Euclides da Cunha (?), o senhor é antes de tudo, um forte. O entretenimento por estas bandas daí é dos mais notáveis, bastante viril e desafiador. Creio que seria bom para ti adquirir o quanto antes um bom ar-condicionado, alguma forma de internet banda-larga e aprender a empunhar um cano para melhor entretenimento. Mas me parece tudo bem divertido. Por outro lado, Fortaleza não é muito diferente: as ruas são imundas, não existem bueiros, as prostitutas são as donas das ruas e os salteadores caem literalmente das árvores. Existe uma prática de espoliação constante dos turistas por parte do gentio nativo, que nos tenta vender qualquer coisa, sempre a preços abusivos. O evento (ANPUH)está sendo um fiasco, com uma desorganização jamais vista. Além disso, ainda nao conseguimos aprender o "cearês", portanto as pessoas não entendem o que falamos, não sabem dar troco, não sabem dar informação e tentam passar-lhe a perna sem nenhum pudor, tudo isto somado a um calor incompreensível e aniquilador. Consigo vislumbrar um segmento da matriz identitária que carcateriza o goiano no que há de mais rude: certamente vem das bandas de cá. Portanto, estou tocando o terror loucamente.
    A vida é trevas.

    Abs.
    Rafael.

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